Como aluno, dentista ou médico, tenho certeza que você já leu muito sobre Câncer Bucal. Embora muito falado, grande parte dos acadêmicos ou profissionais da saúde encontram dificuldades na hora de diagnosticar uma lesão cancerizável.

É aqui que entra a necessidade desse post. Serão 5min de leitura que mudarão a sua forma de ver e entender o câncer bucal.

Sendo o sexto câncer mais comum entre os humanos, 90% dessas lesões são carcinoma epidermóide e 10% neoplasias mesenquimais e de glândulas salivares. A região sudoeste do Brasil é a que concentra mais casos no país, com os homens acima de 40 anos, os mais afetados.

Mas qual a importância desses dados epidemiológicos?

É importante analisarmos o perfil do paciente além da lesão propriamente dita. Os fatores de risco podem podem ajudar na definição do diagnóstico.

Nesse post você encontrará:

  1. Fatores de risco
  2. Lesões cancerizáveis
    – Leucoplasia;
    – Eritroplasia;
    – Queilite actínica;
  3. Fluxo de diagnóstico clínico e tratamento
  4. Condições cancerizáveis
    – Líquen plano;
    – Fibrose submucosa;

Fatores de risco

TABAGISMO: com mais de 60 substâncias cancerígenas, o tabagismo é um fator carcinogênico complete e de dose dependente. Os riscos aumentam de acordo com o tipo de cigarro que está sendo consumindo, sendo:

– Cigarro industrializado: 6,3%
– Cachimbo: 13,9%
– Cigarro de palha: 7%

ALCOOLISMO: os mecanismos da ação do álcool ainda não estão bem estabelecidos, mas acredita-se que o mesmo pode atuar aumentando a permeabilidade celular da mucosa aos agentes carcinogênicos diversos. Assim como no caso do tabaco, o risco relativo também é
dose-dependente.

Quem bebe ao menos duas doses diárias de destilados aumenta em até 10x o risco de
desenvolver câncer. Quando consumido junto com o fumo, multiplica-se o perigo. Em câncer de laringe, por exemplo, esse risco pode chegar a mais de 100x. Assim, além de o álcool ter seu efeito isolado, ele potencializa muito o efeito do tabaco, afirma o Dr. Vartanian do Hospital ACCamargo.

Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) revelam que
o hábito de beber e fumar aumenta em até 20x a chance de uma pessoa
desenvolver algum tipo de câncer de cabeça e pescoço. Tumores nessa região
correspondem a 3% de todos os tipos de câncer. Os de cavidade oral, que incluem
lábios, língua, assoalho de boca, céu da boca, orofaringe como amígdalas, e de laringe
são os tumores mais comuns. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no
Brasil, as estimativas de 2016 apontam a ocorrência de 15.490 novos casos de câncer
bucal, sendo 11.140 em homens e 4.350 em mulheres.

 

Para discutir: Enxaguante bucal pode causar câncer?

Mito ou Verdade? Segundo matéria no site AC/Camargo, os enxaguantes bucais com álcool podem sim causar câncer.

 

Já em matéria nos site da FOUSP, o álcool contido nos enxaguantes bucais é diferente
dos contidos nos destilados e por isso é    incapaz de causar câncer.

RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA: representa o principal fator de risco para o desenvolvimento do carcinoma nos lábios.

Varia com:

  • intensidade;
  • tempo de exposição;
  • quantidade de pigmentação presente na pele do paciente.

DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS: esses pacientes podem ter o epitélio mais vulnerável e permeável, principalmente às ações de outros agentes de risco como o tabaco e o álcool. Ciclo vicioso entre a deficiência nutricional e o hábito do tabaco e do álcool.

DEFICIÊNCIAS DE HIGIENE: quando não existe o hábito de higiene regular, há maior predisposição para a entrada de bactérias e/ou vírus que podem vulnerabilizar a mucosa do paciente. Dessa forma, aumenta-se a predisposição para alterações dessa mucosa.

HPV: nos estudos analisados, o tipo de HPV mais prevalente é o de baixo risco (6 e 54) e o de alto risco (16), sendo encontrado em lesões localizadas na língua e assoalho de boca em pacientes do sexo masculino, faixa etária acima e 60 anos e não-tabagistas.

Conclusões: são necessários estudos que permitam considerar o HPV como agente
causal do carcinoma epidermóide bucal, pois, na literatura, a presença de diversos carcinógenos, atuando concomitantemente, impede conclusões precisas e apontam para uma ação sinérgica do HPV com outros carcinógenos que, de fato, potencializaria o desenvolvimento de uma neoplasia maligna.


Lesões Cancerizáveis 

LEUCOPLASIAS | LESÕES BRANCAS: podem ser resultado do espessamento da camada de ceratina, hiperplasia epitelial da camada de Malpighi, edema intracelular das células epiteliais ou uma redução da vascularidade do tecido conjuntivo subjacente.

A definição de leucoplasia segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é uma lesão branca que não pode ser removida por simples raspagem e que, clínica e histologicamente, não se assemelha a nenhuma outra lesão.

A leucoplasia apresenta diferentes aspectos clínicos:

  • placa ou mancha branca;
  • tamanho variável;
  • aspecto homogêneo ou heterogêneo;
  • lisa ou verrucosa;
  • assintomática.

Pode ser chamada de hiperceratose focal ou friccional, segundo Regezi&Sciubba. Se a natureza da lesão for traumática, não é necessária a biópsia, apenas acompanhamento e orientação quanto a mudança de hábito.

LEUCOPLASIA

Etiologia das leucoplasias

Desconhecida, porém alguns fatores estão relacionados à sua patogenia, como relacionados anteriormente nesse post:

  • Fumo;
  • Álcool;
  • Fatores modificadores irritativos crônicos locais (próteses ou dentes mal posicionados
    resultando em trauma);
  • Radiação ultravioleta;
  • Microrganismos.

Sugaya, 2001; Wan der Waal, 1995

Características clínicas

  • Manchas ou placas brancas;
  • Coloração homogênea ou não;
  • Lisa, rugosa ou ainda verrucosas;
  • Isoladas, únicas ou múltiplas e de tamanhos variados.

leucoplasia

Diagnóstico diferencial
Kovalski, 2002

  • linha alba;
  • mucosa mordiscada;
  • queratose irritativa;
  • estomatite nicotínica;
  • candidose hiperplásica;
  • líquen plano;
  • nevo branco esponjoso;
  • leucoplasia pilosa.

Tratamento

  • Acompanhamento depois de removido o fator causal (se possível);
  • Remoção cirúrgica completa da lesão.

Fluxograma de Diagnóstico Clínico e tratamento de Lesões Brancas 

ERITROPLASIA: termo clínico utilizado para identificar mancha ou placa vermelha que não pode ser caracterizada clínica ou patologicamente com nenhuma outra condição.

WHO, 1978

90% dos casos já representam um carcinoma in situ ou micro-invasivo

Dib, 2002; Sugaya, 2001

Características clínicas
Eritroplasia

  • Manchas ou placas avermelhadas
  • Sem sinais de inflamação
  • Assintomática ou sintomática (ardência/queimação)
  • Bem demarcada
  • Tamanho variado
  • Textura aveludada e macia

Diagnóstico diferencial
Eritroplasia

Tratamento
Eritroplasia

  • Eliminar fatores irritativos locais;
  • Cirurgia, com ressecção completa da lesão, realizando margem de segurança adequada.

QUEILITE ACTÍNICA: Lesão cancerizável por consequência da exposição prolongada e contínua à radiação solar, especificamente à radiação ultravioleta, afeta preferencialmente o lábio inferior, porém, o fumo também é um fator relacionado à sua etiopatogenia.

Markopoulos, 2004; Rojas, 2004

  • Homens brancos;
  • Intensa exposição solar;
  • A transformação maligna da queilite actínica pode chegar a 17% dos casos.

Características clínicas
Queilite Actínica

  • Manchas, placas vermelhas ou brancas;
  • Presença ou não de áreas ulceradas ou descamativas;
  • Ressecamento, atrofia no vermelhão do lábio inferior;
  • Áreas eritematosas irregulares ou hiperqueratóticas;
  • Podem evoluir para erosões, ulcerações, fissuras ou ainda vesículas.

Dib, 2002; Scully 1992

Microscopicamente
Queilite Actínica

  • Atrofia epitelial;
  • Hiperqueratose em estágios iniciais, até displasias que podem ser classificadas como
    leve, moderada ou severa;
  • Degeneração hialina (elastose solar);

Tratamento
Queilite Actínica

  • Biópsia;
  • Uso de pomadas, fotoprotetores e corticosteróides;
  • Cirurgia: vermelhectomia.

Condições Cancerizáveis 

LÍQUEN PLANO: Condição inflamatória crônica, mucocutânea benigna, de etiologia associada às alterações imunológicas, acometendo preferencialmente adultos, cuja relação parece associar-se a distúrbios de ordem emocional. As mulheres acima de 30 anos são as mais acometidas.

Dib, 2002; Einsenberg, 1992.

Características clínicas
Líquen Plano

  • Expressas de maneira polimorfa podendo ser bolhosa, em placa, papular;
  • Atrófica e erosiva/ulcerativa;
  • Reticular, em placa ou papular são mais comuns e geralmente assintomáticas;
  • Erosivo, causa sintomatologia dolorosa, ardor e queimação;
  • Localização mais frequente: mucosa jugal, gengiva e língua.

Diagnóstico
Líquen Plano

Através de biópsia.

FIBROSE SUBMUCOSA: Doença crônica da mucosa bucal caracterizada por uma inflamação e fibrose progressiva da lâmina própria e dos tecidos conjuntivos mais
profundos, seguido de enrijecimento da mucosa. Conhecida também como Noz de Areca e Noz de Betel.

Características clínicas
Fibrose submucosa

  • Sintomas como queimação bucal, sialorréia, pigmentação;
  • Dificuldade de abertura da boca;
  • Mucosa com aspecto enrugado, pálido, superfície atrófica;
  • Em região de mucosa jugal, retromolar e palato mole (mais afetados)

Tratamento 
Fibrose submucosa

  • Colagenase, corticosteróides;
  • Cirurgia para remoção;
  • Interferon gama

Pronto, esse material vai te ajudar no diagnóstico de lesões e será um grande aliado nas provas e trabalhos acadêmicos.

Não se esqueça de referenciar, viu?

Referências:

MartinsRB, GiovaniEM, VillalbaH. Lesõescancerizáveisna cavidadebucal.Rev  Inst CiêncSaúde.2008;26(4):467-76.
www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/pab
www.accamargo.org.br/sobre-o-cancer
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/23/23139/tde-19022015-114144/
http://revodonto.bvsalud.org/pdf/rctbmf/v14n2/a15v14n2.pdf
Sugaya, 2001; Wan der Waal, 1995
Markopoulos, 2004; Rojas, 2004
Dib, 2002; Einsenberg, 1992.
Kovalski, 2002

 

 

 

 

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